Já estava atrasada, pra variar, mas a culpa não é minha se os ônibus ainda não são movidos a jato ou se eu ainda não ganhei um helicóptero de aniversário. Acredito que nunca corri tanto para chegar, mesmo que sem sucesso no horário marcado, mas ainda assim o pequeno grupo estava a minha espera. Cumprimentei a todos e seguimos para os elevadores, só de entrar no recinto senti um frio enorme na espinha e para ajudar todos nos olhavam como se fôssemos alyens perdidos que acabavam de pousar de uma nave espacial.
Chegamos ao décimo andar e me deparei com um grande corredor com várias portas e uma recepção, sim este seria meu local de trabalho pelo próximo mês. Conheci os funcionários, os locais onde ficavam os materiais, alguns pacientes e tentava absorver as informações que me eram passadas rapidamente, sem contar na preocupação de saber como voltaria para casa já que o fim do mundo é bem longe de lá. Pronto, o primeiro dia já havia acabado muito mais fácil e rápido do que a minha mente fértil havia imaginado: sangue para todos os lados, correria, médicos a todo vapor... Nada disso, estava tudo sob controle e calmo.
No segundo dia foi bem melhor, mesmo com o pavor que ainda me atormentava, tentei fazer o melhor que pude, a princípio estava totalmente perdida mas acabei relaxando depois de ver que não era a única. Terceiro dia bomba, foi a sensação mais estranha que já tive, é incrível a "frieza" que é necessária quando um paciente vai à óbito e o quanto isso mexe com a sua vida daí em diante, até o simples ato de chegar em casa tem um gosto diferente. É óbvio que a cada dia estamos mais próximos de nossa morte, e vê-la assim tão de perto é assustador, mesmo para alguém da minha idade.
Os dias que se seguiram foram um pouco corridos mais muito gratificantes, claro que com o tempo as coisas vão ficando mais naturais e com certeza você vai perdendo a cara de estou apavorada e tentando desesperadamente disfarçar.
A cada dia tenho mais certeza de que essa é a minha praia, não tem nada que pague a satisfação de cuidar de alguém e ter gratidão em troca. Cada vida tem seu valor e deve ser vista como tal, assim como cada paciente é um ser humano e poderia ser qualquer um de nós. Dou muito valor a isso, dou muito valor a vida!!
(Caroline França)
Chegamos ao décimo andar e me deparei com um grande corredor com várias portas e uma recepção, sim este seria meu local de trabalho pelo próximo mês. Conheci os funcionários, os locais onde ficavam os materiais, alguns pacientes e tentava absorver as informações que me eram passadas rapidamente, sem contar na preocupação de saber como voltaria para casa já que o fim do mundo é bem longe de lá. Pronto, o primeiro dia já havia acabado muito mais fácil e rápido do que a minha mente fértil havia imaginado: sangue para todos os lados, correria, médicos a todo vapor... Nada disso, estava tudo sob controle e calmo.
No segundo dia foi bem melhor, mesmo com o pavor que ainda me atormentava, tentei fazer o melhor que pude, a princípio estava totalmente perdida mas acabei relaxando depois de ver que não era a única. Terceiro dia bomba, foi a sensação mais estranha que já tive, é incrível a "frieza" que é necessária quando um paciente vai à óbito e o quanto isso mexe com a sua vida daí em diante, até o simples ato de chegar em casa tem um gosto diferente. É óbvio que a cada dia estamos mais próximos de nossa morte, e vê-la assim tão de perto é assustador, mesmo para alguém da minha idade.
Os dias que se seguiram foram um pouco corridos mais muito gratificantes, claro que com o tempo as coisas vão ficando mais naturais e com certeza você vai perdendo a cara de estou apavorada e tentando desesperadamente disfarçar.
A cada dia tenho mais certeza de que essa é a minha praia, não tem nada que pague a satisfação de cuidar de alguém e ter gratidão em troca. Cada vida tem seu valor e deve ser vista como tal, assim como cada paciente é um ser humano e poderia ser qualquer um de nós. Dou muito valor a isso, dou muito valor a vida!!
(Caroline França)
